Por Dr. Lauri Krüger, do Escritório de Advocacia Krüger Advogados Associados
Ao longo de meus mais de 20 anos de carreira como advogado, tenho testemunhado diversas situações que desafiaram meu entendimento da justiça, do direito e da sociedade. Recentemente, as palavras de Nizan Guanaes, em seu artigo “A terceira guerra mundial”, publicado no Estadão, ressoaram profundamente comigo. Guanaes alerta para uma guerra que já está em curso, uma guerra não entre nações, mas entre o homem e a natureza. Essa reflexão ganha ainda mais peso após vivenciarmos a recente enchente em São Leopoldo, onde atuamos e acompanhamos de perto a tragédia que se desenrolou.
Guanaes nos leva a pensar sobre a natureza de forma diferente. Não mais como algo poético ou distante, mas como uma força poderosa e, ultimamente, ferida pela ação humana. Ele nos lembra que eventos como terremotos, tsunamis, secas, nevascas, chuvas torrenciais e avalanches são manifestações naturais que agora parecem retaliar por anos de exploração e desrespeito. A recente enchente em São Leopoldo é um triste exemplo disso, onde vimos de perto o sofrimento e a destruição causados pela força das águas.
Como advogado, acostumado a lidar com fatos e evidências, é impossível ignorar as implicações legais e econômicas dessa “guerra”. A destruição de propriedades, a perda de vidas e o impacto econômico são evidentes e devastadores. A catástrofe fiscal e o aumento do desemprego que se seguem a esses eventos são consequências diretas que temos que enfrentar não apenas em termos de assistência imediata, mas também em planejamentos futuros.
A questão que Guanaes levanta sobre a economia e a preservação ambiental ser vista como uma despesa, enquanto a exploração é receita, é central para nosso entendimento e abordagem jurídica do problema. Em nossa prática, frequentemente nos deparamos com casos onde a balança entre lucro imediato e sustentabilidade a longo prazo está desequilibrada. É urgente que o arcabouço legal evolua para incentivar práticas sustentáveis e punir severamente as infrações ambientais.
Estive presente em diversas discussões sobre mudanças climáticas e sustentabilidade, e uma experiência marcante foi ouvir Al Gore falar no Itaú BBA Conference em Nova York. Suas palavras sobre a necessidade urgente de ação e a realidade das mudanças climáticas me fizeram refletir sobre nosso papel como advogados. Devemos ser mais do que simples operadores do direito; precisamos ser agentes de mudança, influenciando políticas públicas e empresariais para que elas sejam mais alinhadas com a sustentabilidade.
Guanaes menciona a falta de celeridade nos processos de aprovação de projetos verdes e a necessidade de incentivos fiscais. Concordo plenamente. Precisamos de uma via rápida para o futuro, onde projetos sustentáveis sejam priorizados e incentivados. Em São Leopoldo, vimos como a burocracia pode atrasar respostas essenciais e como a falta de planejamento pode agravar desastres naturais.
O futuro das próximas gerações está em jogo. Nossos filhos e netos enfrentarão um mundo radicalmente diferente e potencialmente mais hostil se não agirmos agora. A visão de Guanaes sobre um possível documentário “I Told You” de Al Gore é um lembrete amargo do que já foi previsto e do que ainda pode ser evitado se tomarmos as decisões corretas hoje.
Por fim, a tragédia em São Leopoldo serve como um aviso não apenas para nossa comunidade local, mas para o mundo inteiro. Não podemos continuar a ignorar os sinais da natureza. Devemos aprender com nossos erros e ajustar nosso curso. Como advogado, me comprometo a continuar lutando por um futuro onde o direito e a justiça caminhem lado a lado com a sustentabilidade e o respeito à natureza.
Estamos, de fato, na primeira classe do Titanic, mas ainda há tempo para mudar o rumo e evitar o iceberg que se aproxima. A responsabilidade é de todos nós, e a ação deve começar agora.
Dr. Lauri Krüger é advogado sênior e sócio-fundador do escritório Krüger Advogados Associados, com mais de duas décadas de experiência em direito empresarial e civil.